O que é que significa crer, hoje? Quem é o eu que crê? Que sentido faz atualmente utilizar as expressões “creio em um só Deus, Pai todo-poderoso” e “creio em Jesus Cristo?” Eis algumas das interrogações-chave que marcarão um curso que se iniciará na próxima segunda-feira, 19, a propósito dos 1700 anos do Concílio de Niceia. A propósito da iniciativa, o padre Peter Stilwell, responsável pela formação, destaca, em declarações ao 7MARGENS, a relação que aquela assembleia pode ter, hoje, com questões científicas como por exemplo aquelas trazidas por Darwin.
O curso decorre no ano que antecede a comemoração dos 1700 anos sobre aquele que foi o primeiro grande encontro ecuménico de líderes cristãos na história, realizado entre maio e agosto de 325, convocado pelo imperador Constantino. A convocação foi motivada por causa de Ário, padre de Alexandria, no Egito, que sustentava que Cristo não era uma entidade divina, mas apenas um instrumento de Deus, o que foi considerado uma heresia pela maioria das comunidades cristãs do tempo.
Do concílio resultou o “Credo de Niceia” (325), confirmado no ano de 381 pelo Concílio de Constantinopla. Essa é a declaração de fé ainda hoje comum à generalidade dos cristãos que estabelece a unidade e igualdade absolutas entre as figuras teológicas de Deus (Pai) e de Jesus Cristo (Filho). O curso propõe-se, na linha do que o recente Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade recomenda, retomar “a reflexão sobre esta questão, porque foi um momento de união da Igreja e [de] praticamente todas as confissões que hoje se reclamam de cristãs”.
Para além disso, também a relação entre ciência e religião ocupa um lugar determinante no programa, ilustrando o debate entre estes dois domínios e refletindo sobre o trabalho de autores como Charles Darwin (na base da teoria da evolução das espécies), Rudolf Bultmann (teólogo luterano que interpretava de forma existencial os elementos mitológicos do Novo Testamento), ou Niels Bohr (filósofo dinamarquês, com contributos importantes para a compreensão da mecânica quântica, que lhe valeu o Nobel da Física em 1922).
“Que dizer agora de quem criou um tão vasto e estranho universo, como no-lo revelam a astrofísica, a mecânica quântica e a teoria da evolução das espécies? Que interesse têm ainda os estudos bíblicos e literários, as grandes obras de espiritualidade, à luz do que nos ensinam as neurociências e a psicologia? Como havemos de falar hoje de graça e de pecado, ou da ‘encarnação’ e ‘redenção’ em Cristo? Terá algum sentido afirmar que a morte e ressurreição de Jesus alterou de forma determinante o destino espiritual não só dos milhões de seres humanos do nosso planeta, mas das outras tantas galáxias que compõem o nosso universo?” Estes são apenas mais alguns dos desafios que a organização, a cargo do Instituto Diocesano da Formação Cristã do Patriarcado de Lisboa, propõe a quem participar neste curso.
“Mesmo por uma questão de curiosidade, é interessante ver como uma religião se pode defrontar com os desafios das ciências e do pensar contemporâneos sobre a natureza humana”, afirma Stilwell. O também professor da Faculdade de Teologia e responsável do Departamento do Patriarcado de Lisboa para o Diálogo Inter-Religioso lança deste modo o convite para todas as pessoas interessadas (cristãs ou não) participarem nesta formação.
O curso decorre todas as segundas-feiras até 3 de junho, sempre a partir das 18h15, presencialmente, na Capela do Centro Comercial das Amoreiras e online. A inscrição pode ser feita no site do Instituto, tendo um custo de 50€.